sábado, junho 21, 2008

-"and laugh but smile no more"

os sons das bóias rodeiam-me, ao percorrer um porto subaquático, entre algas e tartarugas que se agitam pacificamente por cima de mim. a falta de oxigénio deixou de ser um problema, ja nem vejo as bolhas de ar que me atormentaram a visão por alguns segundos, o meu corpo a balançar à vibração das ondas, o sol a irradiar em focos entrecortado por escuridão. e ainda o som das bóias, e ainda as tartatugas e as algas na sua calma agitação.
saio da água, mais vapor do que carne, e os meus olhos vítreos contemplam o céu. não posso dizer que não sou nada, porque até o nada é alguma coisa, estou assim para além da existência, entre a não-existência e a ionexistência (que não são a mesma coisa). não pretendo fazer nenhum movimento para me afastar das ondas retumbantes sob o céu plúmbeo, não espero os dias passarem para me dar à cobardia de combater a ausência que me assola sempre que a solidão se vai.
mas pode-se dizer que a inexistência está para além do vácuo? o vácuo é a falta de alguma coisa, a inexistência, está para além da falta, está para além do zero, do nada, pois até o zero tem validade matemática. a inexistência também não é o infinito, tão pouco a unidade. um número a dividir por infinito é nada, ou seja o nada é alguma coisa dividida, o que torna o nada um ínfimo de alguma coisa.
procuro uma definição para mim, que não sou nem nada nem alguma coisa inteira, sou fragmentada, ausente e vapor. tudo isto é aguma coisa, a soma tem que ser alguma coisa, no entanto continuo a sentir, a sentir que não sou nada disto.
prefiro perder-me no meio das algas, nadar com as tartarugas, mas sou puxada das ondas e é-me feita a reanimação. acordo.
o sol a irradiar entrecortado por focos de escuridão da malha plúmbea que é o céu.
os olhos ainda vítreos pelas dores, ainda o som das bóias.
a ignorância daquilo que sou.