terça-feira, novembro 18, 2008

Pérolas a porcos

tu tratas da teia como se fosse um berço, como se contivesse algo de extraordinário, para além da aranha. aliás, tu pensas que a aranha é o ser extraordinário.
a aranha embala a teia, e tu és levado com ela, de forma que nem sentes a picada, nem sentes as toxinas a dilacerarem-te, a marcarem-te, a deixarem-te trémulo e vazio e só te apercebes do que te aconteceu, da picada enganadora, quando já és pleno em dor.
[libertação]
continuas a velar o sentimento que foi, que se foi e nunca mais voltará, talvez outra aranha, talvez outro ser extraordinário, mas nunca mais, pensas, a picada, o engano.
fechas-te, então... fechamo-nos. o mundo passa a ser povoado de mágoa, de vazio, de desconfiança, de medo da picada enganadora.
olhas-te ao espelho... surpreendes-te por te teres tornado uma térmita, a tapar todas as fendas, a emparedar a luz e o ar e o mundo do lado de fora.
vês-te, a térmita... a térmita... o restolhar, o mastigar, o depositar, o amassar... tapar... tudo, tapar...
tem que haver mais qualquer coisa....tem que haver mais alguma térmita.

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