sexta-feira, dezembro 05, 2008

das luzes.







Tomar tem muitas luzes. O Instituto tem muitas luzes.
As minhas orelhas fervem enquanto olho as luzes, enquanto vejo o reflexo das luzes do lago, enquanto vejo as ondas criadas na superfície do reflexo das luzes do lago.
Não são luzes quaisqueres. São luzes de candeeiros, não candeias, porque as candeias ir-se-iam apagar com a chuva que cai. Acho os holofotes gritantes, com a sua luz que é forte mas não ilumina, incomoda a vista. Impede a Noite de entrar na minha janela, onde gostava que houvesse uma daquelas namoradeiras antigas para poder passar a minha vida lá sentada, a ver as pessoas a passar.
Gosto de estar à janela.
Gosto de ver as pessoas a passar, durante o dia ou mesmo à noite, porque a noite só por si não é desculpa para estar à janela, mas e daí é...
A noite é um refúgio, porque sei que dali a umas horas já não vai ser hoje mas sim amanhã, e amanhã por esta hora já vão faltar poucas horas para o dia a seguir.
O meu quarto é muito pequeno para isto, e assim eu revejo-me nas pessoas que passam lá fora, que vão e vêm, imaginando que a minha vida é a deles, mais agridoce ou menos, mais complicada ou muito mais facilitada.
Uso a janela para extrapolar os limites das possibilidades do meu ser, para me extrapolar como indivíduo,para me extrapolar como solidão.
Porque eu sei que se estivesse na pele deles seria tão sozinha como sou hoje, e não há pontes que culmatem o facto de que sou uma ilhota deserta no meio de um oceano.
Sinto-me como um holofote, hoje. Gritante mas sem nada coerente para dizer...