sexta-feira, abril 04, 2008

freak without a leash

a minha pele, escamosa e escorregadia é de mulher e eu não entendo como é que consegui crescer no meio de humanos sem ninguém me descobrir a máscara. talvez porque a insanidade foi sempre o meu forte e as pessoas consideram isso um atributo correspondente a pessoas diferentes ---> mal sabem elas, coitadas.
as minhas mãos são de gente, a minha cara é de gente, mas eu não me sinto gente, nem eu, nem as outras que se mexem dentro de mim.
estranhamente, para todos sou gente.
é engraçado como por vezes não interessa de todo o que somos e como nos sentimos, e o que conta é apenas aquilo que os outros depreendem que nós somos. subitamente nada mais importa.
para mim, toda a gente bate um bocado mal. porque passam todos ou com o rei na barriga, ou a fugir dele, tendo toda a gente um bocado destas duas facetas extraordinariamente animais.
atenção ao advérbio: extra-ordinariamente. isto quer dizer que já não bastava ser uma coisa banal, é uma coisa banal, mais um suplemento adicional.
(a minha lógica tem andado a bombar, ultimamente).
a verdade, é que eu já não sei onde começa a pele de mulher e acaba a de Górgon, e as minhas serpentes perdem-se no meio dos meus cabelos, meio por protecção, meio pela sombra aconchegante do moreno.
eu tento vaguear e procurar-me, as minhas origens, o meu destino, fado, mas de nada vale, a vida tem sempre maneiras extra-ordinariamente intrincadas de meter tudo de patas para o ar.
só me vale uma certeza... apesar de tudo, apesar de todos os nomes que me chamem e todas as insinuações que utilizem, eu não sou canibal.
eu petrifico.
por isso, vou respirar por mais um dia com pulmões de mulher, na esperança de que o herói do conto chegue para aniquilar o monstro e ponha fim ao sofrimento deste animal que só se sabe defender.

alas, i'm still alive, and i know how to write.