sexta-feira, janeiro 16, 2009

das luzes - II

Estou a respirar.
Faço um esforço para respirar, para obrigar os meus pulmões a exalarem, a inalarem, a trabalharem de forma útil para que me mantenham viva.
Faço um esforço para me lembrar das razões válidas para que faça sentido continuar a respirar, a instigar-me a continuar.
Faço um esforço para ficar imóvel, ainda a respirar. Imóvel para que o tanque não me veja, ou me esmague menos, ou que seja só uma carícia inofensiva no meu cabelo e não aquilo que eu estou à espera.
E de repente o meu instinto de sobrevivência toma conta de mim. Volto-me. E só estou eu entre o tanque e a parede de betão e o ar parece que se escapa dos meus pulmões e sinto o trepidar do chão e as minhas unhas arranham a textura arrepiante do pó da parede. O ainda - e mais - arrepiante som das lagartas mesmo atrás de mim.

Tudo negro. A vastidão. Será inconsciência, coma ou a inexistência? Sinceramente não quero saber. Sinto calor, mas estou marmórea por dentro. Os pulmões funcionam.
Mas sem os meus mapas, sem as minhas luzes, sem a minha luz.. sem a minha luz...
Será que era isto que andava à procura? No dia em que descubro a luz ela apaga-se?

Acordo muitas vezes de um sonho assim. Acordo muitas vezes da minha morte. A morte que me leva, ensanguentada, sem mapas, sem grilhões, mas que deixa sempre o grito silencioso do desespero. Acordo com os olhos vermelhos do ardor do frio do espaço, com os ossos exaustos de uma caminhada sem fim. Ainda no sonho? Ou já na realidade?

A cada dia que passa a transparência toma conta da minha derme. Os ossos sobressaem do frio que me come por dentro, mais sonho, mais arrepio, mais carne para as lagartas, mais mármore. Já não não sinto a minha luz... Será que sonhei?

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